sábado, 27 de agosto de 2011

Fisioterapia e Gestação

Os incômodos na gestação eram tidos como inevitáveis, sem importância, e nenhuma intervenção era realizada antes do nascimento do bebê. Com a evolução científica e novas pesquisas na área da saúde e dos procedimentos fisioterapêuticos, atualmente sabe-se que a fisioterapia tem muito a colaborar. A queixa de desconforto geralmente flutua durante a gravidez. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer período gestacional, mas, para a maioria, é entre o quarto e o sétimo meses, podendo variar de pequena rigidez passageira ou incômodo até a incapacidade. Cerca de 50% das gestantes sentem dor em intensidade e duração suficientes para afetar seu estilo de vida de alguma forma e, para um terço delas, a dor chega a ser muito grave. 5-6
O papel do fisioterapeuta-obstetra não é somente tratar quando for preciso, mas também ser membro da equipe obstétrica que procura entender o problema, que tem todas as últimas informações relativas às causas e tratamentos dos sintomas. Quando solicitado o seu acompanhamento, o fisioterapeuta é o profissional da saúde mais próximo da gestante, em suas consultas semanais, visando principalmente à prevenção e, quando essa falha, ele busca conter e minimizar o problema. 1-5
Durante a gestação, os principais objetivos fisioterapêuticos são promover uma melhor postura, orientar, aliviar e prevenir a dor, estimular os sistemas cardiovascular e intestinal, prevenir edema, preparar os membros superiores para a amamentação, preparar para o parto, prevenção e tratamento da incontinência urinária. A fisioterapia pode utilizar diversos recursos, porém, a combinação de orientação, cinesioterapia e  drenagem linfática manual é a abordagem mais comum e completa. 1-3, 6, 13-17
É indispensável uma anamnese minuciosa, que contenha seu histórico, coleta de dados de gestações e atividades diárias anteriores, queixa principal, presença de intercorrência, patologias associadas, identificação de desconfortos, inspeção visual, onde se analisam postura, estrutura musculoesquelética, edema, manchas, estrias, fibroedema geloide.1-4
Orientações
Gestantes bem orientadas e com uma boa mecânica corporal têm menor risco de desenvolverem lesões musculoesqueléticas. A orientação e acompanhamento são fundamentais para aumentar a percepção da mecânica postural correta, do controle da musculatura do assoalho pélvico, da ativação dos músculos lombares e abdominais para a estabilização lombopélvica, melhorando a capacidade de relaxamento, preparando para o trabalho de parto por meio de orientações de exercícios respiratórios e facilitatórios. 1-3






Cinesioterapia
O exercício apropriado melhora as condições cardiorrespiratórias. Um sistema cardiovascular saudável é importante porque o sangue deve ser eficientemente transportado para a placenta, que fornece oxigênio e nutrição ao feto. Um nível de condicionamento melhorado é uma vantagem durante a gestação, porque ajuda a reduzir o cansaço que grande parte das gestantes sente. 1-4, 17

O acompanhamento fisioterapêutico da gestante preconiza exercícios que englobem um bom preparo cardiorrespiratório e físico, para que essa possa ter, além de uma gestação tranquila, um trabalho de parto mais rápido e sem complicações. No entanto, devem ser avaliadas quais as atividades que a gestante praticava antes de engravidar e sua preferência. Seu ritmo de exercícios durante a gestação deve ser baseado no que praticava anteriormente. Dependendo da atividade, que pode ser mantida ou adaptada, a sua intensidade deve ir diminuindo gradualmente com o avanço da gestação. É necessário ter conhecimentos fisiológicos ao administrar um programa de exercícios a uma gestante, alternando-lhe as posições do corpo em pequenos intervalos de tempo, evitando a posição supina, observando o descanso entre as séries e a temperatura ambiental.
O exercício parece melhorar a capacidade do corpo em dissipar o calor, efeito que permanece presente no estado de gravidez. Porém, a hipertermia na gestante deve ser evitada por seus efeitos teratogênicos sobre o feto, devendo ser levado em consideração o horário do dia e a temperatura do ambiente em que faz a atividade. 2, 16
A frequência cardíaca não deve ultrapassar 140 bpm, os exercícios exaustivos, aeróbicos de impacto, de longa duração, em ambientes quentes e poucos arejados deverão ser evitados. A duração de cada sessão não deverá ultrapassar 60 minutos e intensidade de 55% com base na frequência cardíaca máxima, distribuindo os tempos em aquecimento, alongamento específico à necessidade. A força muscular deve ser direcionada a necessidade postural, preparar membros superiores para a demanda dos cuidados com o bebê, preparar os membros inferiores para a demanda do aumento do peso, exercícios metabólicos, durante os exercícios deve-se dar ênfase à expiração e ativação da musculatura do assoalho pélvico e ao final, relaxamento. A frequência deve ser de duas a três vezes por semana para iniciantes e de quatro a cinco vezes por semana para gestantes que já praticavam atividade física constante. 10, 11, 17
Alguns tipos de atividades físicas como exercícios leves na água, caminhada e bicicleta estática já vêm-se destacando como prática de atividade física durante o período gestacional. A atividade física na água é benéfica e geralmente é mais relaxante que outros tipos de exercícios. A hidroterapia reduz ainda a frequência de edema que é um efeito comum na gestação. O efeito da água morna sobre o corpo serve também como termorregulador, proporcionando ao feto a possibilidade de maior estabilidade frente à elevação de temperatura e a subsequente diminuição do suprimento de sangue. A temperatura ideal da água deve ficar entre 28ºC e 30ºC. 4-6, 16, 17
Drenagem Linfática Manual (DLM)

O edema de membros inferiores é um dos sinais mais comuns no terceiro trimestre da gestação, destacando-se como um dos mais desconfortáveis para as mulheres afetadas, pois, com frequência, associa-se a sintomas como dor, cansaço, sensação de peso e parestesias nos pés e pernas acometidos, além do componente estético que tanto incomoda as mulheres. Cerca de 25% do volume total do edema acumulam-se nas pernas e nos pés.
A Drenagem Linfática Manual (DLM), técnica de massagem que aumenta o fluxo da linfa na direção dos gânglios linfáticos, tem por objetivo criar um diferencial de pressão a fim de promover o deslocamento da linfa e do fluido intersticial, visando à sua recolocação na corrente sanguínea e, consequentemente, à diminuição do edema do membro ou do local afetado. 12-14






Discussão
A atuação da fisioterapia na especialidade da saúde da mulher permite intervir sobre vários aspectos da função e do movimento humano, que sofram mudanças e alterações desde a adolescência até a fase adulta, passando inclusive pelo período gestacional. No Brasil, a fisioterapia aplicada à obstetrícia é ainda enquadrada como uma das áreas de atuação mais recentes dentro da profissão, tendo sido determinada a sua obrigatoriedade no curso de graduação, em todo o território nacional, somente a partir da reforma curricular de 1985. Porém, a sua prática rotineira só foi implantada, pela primeira vez, no Serviço Ambulatorial da Maternidade Escola Hilda Brandão, em Minas Gerais, em 1988, e visava ao atendimento fisioterapêutico às gestantes, tanto no pré-natal como no parto e puerpério imediato. Essa área, por ser pouco explorada no Brasil, não está ainda firmemente estabelecida dentro do quadro de profissões que respondem pela saúde da mulher, deixando o fisioterapeuta-obstetra sem um papel bem definido nas equipes que auxiliam as gestantes.
A gestante não deve ser vista como uma paciente que pouco ou nada tem a ser feito por ela. Entretanto, seria irresponsável divulgar a idéia de que, sem a intervenção fisioterapêutica, a mãe ou o feto sofreriam algum dano. Porém, já está comprovado que a intervenção fisioterapêutica é positiva na maioria dos desconfortos gestacionais. 4-11
Conclusão
O trabalho interdisciplinar é imprescindível em qualquer área da saúde e, nesse sentido, o papel do fisioterapeuta-obstetra torna-se fundamental dentro das equipes multidisciplinares de assistência pré-natal, devendo inclusive trabalhar na perspectiva da fisioterapia comunitária.
Nesta, a abordagem é muito mais integral, em que não apenas se trate e cure, mas também se observe e oriente, passando a ter uma atuação também na promoção de saúde, em que se observa o quanto o fisioterapeuta é importante à assistência pré-natal. Embora a fisioterapia tenha muito a oferecer aos outros profissionais da equipe de saúde, assim como à própria gestante, existe uma quantidade limitada de literatura com documentação de apoio sobre as técnicas da fisioterapia aplicadas à obstetrícia. Essa escassez de publicações, em português, diminui, de certo modo, a credibilidade dos serviços fisioterapêuticos direcionados às gestantes, assim como o crescimento da área dentro da profissão.
Infelizmente, o público não tem uma visão clara da fisioterapia nessa área nem o grupo interdisciplinar, sendo necessária a modificação da visão de todos os profissionais da saúde associados ao fisioterapeuta.
Espera-se que a intervenção fisioterapêutica proporcione conforto para a gestante, que ela passe por esse período sem prejuízos físicos ou estéticos, com alívio de dores musculares que possa vir a sentir, que possa melhorar sua consciência corporal, sua qualidade de vida, física e psicológica, permitindo-lhe uma integração mais harmoniosa em sua rotina diária doméstica e/ou laboral. Ao diminuir o uso de medicamentos analgésicos e o risco de seus efeitos colaterais e reações adversas, reduzem-se os dias de afastamento do trabalho, proporcionando economia substancial ao sistema de seguridade social e ao sistema de saúde público.

É possível inferir, por meio deste trabalho, que a intervenção fisioterapêutica pode trazer grandes benefícios para a gestante desde o preparo físico e preventivo até o parto e puerpério. Durante toda a gravidez, seja nos desconfortos comuns da gestação, seja no preparo ao parto vaginal ou mesmo quando a cesária se faz necessária, a mulher que passou por uma gravidez mais tranqüila e foi fisicamente preparada tem um restabelecimento mais rápido e com menores chances de algum desconforto persistir no puerpério. E mostrar a importância do papel do fisioterapeuta na equipe multiprofissional vinculada à saúde da mulher, em geral, e da gestante, em particular.


****** Referências - Parte do meu artigo:
Borges, D. Scarulis, M. Fisioterapia nos Desconfortos Gestacionais.
TCC Universidade Paulista. Ribeirão Preto.

Um comentário:

  1. Texto incrivel e ótimas ilustrações!!! To já bisbilhotando até seu blog... Parabéns!!

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